segunda-feira, 5 de março de 2012

05 de fevereiro

Estáticos admiravam um ao outro, palideciam os olhares com lágrimas. Ele tremia, enquanto forçava parecer o mais tranquilo e frio possível. As mãos tremulavam com as dela, a fala saía escassa e o concesso da felicidade radiava entre seus sorrisos sobrepostos pela nervosia causada por aquele sentimento novo, mas já conhecido. 
A tarde crescia cinza e amarelada, as luzes dos postes ,já acesos, se confundiam com a fresta de luz deixada pelo sol. A claridade lhes confundia os olhos, organizavam-se um em frente ao outro a fim de evitar incômodos, a proximidade dos corpos lhes causava aconchego, calor . . . 
Os olhos dela levitavam e acompanhavam o movimento exato dos lábios que serenamente diziam palavras doces. Ele olhava pra baixo, analisava involuntariamente as curvas de suas pernas e a forma engraçada que sua sombra se colocava diante à dela.
Travavam-lhe as palavras dentro da boca, tremiam-lhe os lábios superiores e levantava a sobrancelha esquerda de vez em quando por indignação de não saber ao exato o que dizer. Parava às vezes e suspirava, ela sorria e apertava-lhe as mãos como gesto de compreensão.
O silêncio lhes tocou por um segundo, o vento frio que por hora batia ajudou a afirmar o arrepio que dos dois tomava conta e os olhos finalmente se viram. Há pessoa que passam anos ou a vida inteira a procurar olhos assim, tão próximos, tão simétricos. Esqueceram-se por cem anos dentro do olhar um do outro, esqueceram do tempo, do perpetuar de antes, viveram uma eternidade dentro de alguns segundos.
Abaixou levemente a cabeça pela esquerda, arrastou os lábios por suas bochechas, segurou fortemente suas mãos mais uma vez, puxou seu peito para perto do dele, até que estivesse devidamente posto bem ao lado do seu ouvido, os olhos se fecharam, todos os quatro, e de seus lábios saiu um suspiro que deixou seus corpos ainda mais perto um do outro. Disse cada palavra com o maior cuidado possível, com toda a delicadeza, como se retirada do primeiro poema já feito.
_ Eu te amo._Arrastou de volta sua boca por suas linhas, tombaram novamente seus rostos e se encontraram nos lábios uns dos outros, encontraram e perderam-se, pra sempre.